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UMA PROPOSTA DE ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA BASEADA EM
             ASPECTOS CULTURAIS DE UM MUNICÍPIO PARAENSE


                                                      Augusto Cezar Gonçalves Bello1
                                                    Hamilton Gomes de Araújo Júnior 1
                                                 Hanrryetth Christine Frota de Oliveira1
                                                  Harrisson Alexander Mendes Costa1
                                                    Luan Marcus dos Reis Gonçalves1




RESUMO




O presente estudo tem como objetivo elaborar uma proposta de ensino sobre a
matemática financeira com uso da cultura regional do aluno, como exemplo usamos
a do município de Igarapé Açu. Fundamentado nos dados colhidos acerca deste
município, economia e cultura, onde privilegiamos a agricultura e utilizamos de dois
questionários, um aplicado a 20 (vinte) alunos do 2º e 3º ano do ensino médio, e
outro aplicado a 8 (oito) professores de matemática de ensino médio, construímos a
proposta voltada ao ensino da matemática financeira baseado em aspectos culturais
do estudante. Os resultados esperados com o uso desta forma de lecionar é que os
discentes assimilem este conteúdo mais facilmente e possam mesclar o
conhecimento adquirido em sala de aula com o seu dia-a-dia.




Palavras chaves: Etnomatemática, Matemática financeira, ensino, aprendizagem.




___________________________________________________________________
1
  Graduandos do curso de Licenciatura plena em Matemática da Universidade do Estado Pará.
etnomat@gmail.com
O ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA
          Ao iniciarmos este estudo constatamos que a matemática financeira não é tão
privilegiada nas escolas como deveria, como ressalta Possiede (2007): “[...] a
Matemática Financeira não está sendo contemplada de forma satisfatória no
cotidiano das escolas [...]” Pois é ministrada ao aluno de forma mecânica, abstrata,
sem artifícios que estimulem a sua criatividade, por isso muitos perdem o interesse
pelo conteúdo ministrado em sala de aula.
           E para que o ensino seja significativo o professor precisa aprender a
respeitar as diferenças culturais de seus alunos. Levando em consideração a
matemática que este possui, adquirida por meio da cultura e utilizada de forma
intuitiva, como ressalta o D’Ambrosio (2003): “O ensino de matemática não pode ser
hermético2 nem elitista3. Deve levar em consideração a realidade sócio-cultural do
aluno, o ambiente em que ele vive e o conhecimento que ele traz de casa”.
          Logo, o professor precisa procurar meios de se adequar as diferenças
existentes, considerando aqueles estudantes que se identificam ao seu método
tradicional de ensino, contudo, há os que necessitam de uma abordagem diferente
para poder assimilar o conteúdo, pois não conseguem aprender com uso de
exemplos abstratos e necessitam de uma “ponte” com a realidade.
          Contudo, a abordagem não é a única razão para a desvalorização da
matemática financeira, existe também a falta de materiais didáticos que na sua
mostragem não são fiéis a importância deste conteúdo. Nascimento (2004, apud.
Possiede, 2007) mostra outros fatores a respeito desta desvalorização:

                                (...) constatamos um descompasso entre a opinião dos
                                professores de Matemática, que consideram a Matemática
                                Financeira como um tema importante para a formação dos
                                alunos e o fato de que não a selecionam como um conteúdo a
                                ser trabalhado, com razoável destaque, nas turmas de Ensino
                                Médio.
                                Uma hipótese para compreender essa decisão dos professores
                                pode estar localizada nos programas e provas dos vestibulares,
                                que não priorizam esse tema, mas que, infelizmente acabam
                                orientando o que se ensina nessa etapa dos vestibulares.
                                Outro fator que concorre para a não abordagem dos tópicos de
                                Matemática Financeira de forma mais coerente com algumas
                                tendências da Educação Matemática – sejam as idéias
                                veiculadas por teorias como as da Etnomatemática, da
                                modelagem, dos projetos de trabalho, dentre outras – é a pouca
___________________________________________________________________
2
    Confuso, difícil de ser compreendido, misterioso. (Dicionário Aurélio).
3
    É o sistema embasado no favorecimento de minorias. (Dicionário Aurélio).
atenção dada ao tema pelos livros didáticos.
                          Há ainda a questão referente à formação dos professores de
                          Matemática que, de modo geral, não têm em sua formação
                          inicial, nos cursos de Licenciatura, estudos sobre o tema nem
                          sobre suas possíveis abordagem. ( p. 123)


      Estes fatos comprovam que o ensino deste conteúdo é defasado e necessita
de uma nova abordagem, tendo em vista que com a globalização, a força do capital
aumentando e as relações financeiras entre empresas e empresas, empresas e
pessoas, se intensificando, é necessário que as partes envolvidas nestas transações
possuam conhecimento suficiente do contexto matemático que rege esse mercado
global, nacional e regional.
      Nesta perspectiva, a Matemática Financeira é fundamental, é o alicerce
básico, é o ponto de partida. Com isso, o sistema de ensino tem o dever de elaborar
discussões    a   respeito     dos   efeitos   benéficos   e   nocivos    do   capitalismo
conscientizando o aluno, que é o futuro profissional, das desigualdades sociais
geradas pelo capitalismo. Shilling (apud, Possiede, 2007) exemplifica a ocorrência
dessas desigualdades sociais promovidas pelo capitalismo financeiro:

                          Trata-se de transferência de renda, do sul ao norte, transferência
                          de riqueza, do cidadão comum ao especulador. Pois o sistema
                          atual, alavancado pelo predomínio do consumo sobre a
                          produção, é uma forma de transferência de renda e riqueza,
                          produzindo incessantemente novas desigualdades. (p. 34)

      Nesta visão, a matemática financeira é a ferramenta ideal para podermos
entender sobre o capitalismo, ela é fundamental para formar alunos críticos, que
tenham questionamentos diante de uma propaganda, como: “Qual a razão de
comprar isto? Será que comprar parcelado realmente é melhor que a vista? Qual
será o melhor negócio, comprar com juros?” Entre outras questões. Logo,
entendemos que este conteúdo não possui apenas uma perspectiva de construção
do conhecimento, mas também um caráter de formação da cidadania do aluno,
tornando-o crítico e reflexivo sobre suas atitudes.
      Tais características da matemática financeira são ressaltadas por Miguel e
Miorim (2004, apud, Possiede, 2007) ao declararem que é dever da Educação
Matemática, estimular o aluno a construir “(...), por intermédio do conhecimento
matemático, valores e atitudes de natureza diversa, visando à formação integral do
ser humano e, particularmente, do cidadão, isto é, do homem público.” (p. 71)
Portanto a construção do conhecimento não forma apenas o estudante, mas
também molda seu caráter social preparando-o para os obstáculos que a vida lhe
impõe. Contudo, o ensino deste assunto não é tão valorizado como necessita a atual
conjuntura social, as escolas abordam este conteúdo utilizando exemplos abstratos
e superficiais que limitam a criatividade e acarreta na falta de interesse e/ou ao não
relacionamento do mesmo com o cotidiano.
       Logo é dado ao educador a tarefa de fazer o aluno aprender a relacionar seu
conhecimento com sua vida, respondendo a tão famosa pergunta: “Porque e para
que eu aprendo isso?”. O conteúdo discutido por este estudo é uma ferramenta que
cedo ou tarde será utilizada para ajudar-lo a resolver situações de seu cotidiano,
como nos cálculos de compras, de dividas, de parcelamentos, entre outros. Então,
concordamos com Possiede (2007) a respeito de que “(...) é importante que o
professor ressalte a questão do tempo, ou seja, faça com que o aluno compreenda
que os saberes escolares devem, em dado momento da sua vida, interferir no seu
cotidiano (...)” (p. 5)
       Estes fatos nos levaram a elaborar uma proposta de ensino da matemática
financeira baseada nos elementos sócio-culturais e escolhemos o que se enquadra
melhor ao conteúdo exposto, a economia. Usamos alguns itens da base econômica
da região de Igarapé-Açu4 para formular um exemplo de atividade que relacione o
ambiente do estudante com este conteúdo.


METODOLOGIA
       Os dados sobre a agricultura deste município foram obtidos junto a
Associação dos Lavradores de Igarapé-Açu (ALIA). Os mesmos foram adaptados a
um quadro que relaciona o Custo, a Venda, a Revenda e a Produtividade de cinco
produtos: Mandioca, Arroz, Milho, Feijão e Pimenta do Reino (veja Quadro1).
       Para a coleta de dados a respeito do ensino e da aprendizagem, foram
aplicados questionários aos alunos e professores.
       Nos questionários dirigidos aos estudantes na faixa etária de 16 a 17 anos de
ambos os sexos, pertencentes ao ensino médio (2º e 3º ano), foi entrevistado um
grupo composto de 20, dos quais 5 (25%) não tiveram nenhum tipo de contato com
a matemática financeira e 15 (75%) tiveram contato, sendo que neste último,
___________________________________________________________________
4
 Município do estado do Pará situado na região Bragantina, possui uma população de 33.778
habitantes. (Fonte: IBGE).
10 (66,67%) cursam o 2º ano e ainda mantém contato com o conteúdo e os outros 5
(33,37%) estão no 3º ano e não tem mais contato.
      O fato de 4 estudantes do 2º ano não terem visto este conteúdo e de 5 do 3º
ano não manterem mais ligação com o mesmo, comprova a falta de interesse por
parte dos alunos ou a não valorização deste assunto por parte da escola.
      Entre os 15 alunos que tiveram contato com a matemática financeira, 10
(66,67%) citaram que o professor fez uso de resolução de problemas, 2 (13,33%)
comentaram que o professor fez uso de resolução de problemas e atividades
extraclasse (pesquisas, jogos, analises de situações) e 3 (20%) disseram que o
professor fez uso de atividades extraclasse.
      As formas de abordagem do conteúdo influenciam diretamente nas atitudes
dos educandos, a aplicação de somente resolução de problemas com uso de
exemplos abstratos cria no mesmo o descaso com o conteúdo ministrado ou
constrói um conhecimento com bases fracas que futuramente se depararão com
situações em que o aluno conhece o conteúdo, mas não sabe aplicá-lo. O uso de
atividades extraclasse, com relação ao assunto ministrado, desenvolve no educando
o caráter de pesquisador e contestador e/ou criador de situações, formando não só
seu conhecimento voltado ao engrandecimento de sua cidadania.
      Os alunos relataram dificuldades em vários aspectos, 2 – A e D – (13,34%)
citaram “que é difícil juros compostos, pois há a presença de número decimal e um
expoente literal.”; 5 – B,C,F,H e J – (33,34%) disseram sentir “dificuldade nas
questões contextualizadas, principalmente quando envolvem juros.”; 4 – E,G,N e O
– (26,66%) falaram que “Não gosto muito de fazer contas com número decimal.”. Os
demais – I,K,L e M – (26,66%) comentaram não ter dificuldades no conteúdo.
      As dificuldades apresentadas são evidências de uma descontinuidade do
conteúdo o que gera esse desnível na aprendizagem, uns assimilam melhor que
outros. E o fato de alguns não “gostarem” de efetuar operações envolvendo números
decimais constata a falta de habilidade para aplicar, matematicamente, um assunto
que eles utilizam diariamente, como ao contar os centavos para uma passagem de
ônibus ou os centavos de um troco.
      Os 15 alunos foram questionados se o uso de exemplos do cotidiano, a fim de
facilitar o entendimento da matemática financeira, seria satisfatório. 12 –
A,B,C,D,E,G,H,I,K,L,N e O – (80%) responderam que “sim” e alguns acrescentaram
dizendo que isso “tornaria a aula menos chata e mais interessante.” Os demais
alunos – F,J e M – (20%) disseram que “não” e acrescentaram que “não tem mais
necessidade, eu não vou usar mesmo”.
      Como podemos observar é de vontade da maioria que a matemática
financeira seja adequada a realidade do educando, já que como os mesmos
ressaltaram tornaria a aula mais interessante. É triste a resposta dos demais alunos,
já que eles possuem a idéia de que não usaram este conteúdo em sua vida.
      Nos questionários dirigidos aos professores, de ambos os sexos, do ensino
médio (2º e 3º ano), foram entrevistados 8 profissionais da educação, dos quais 6
(75%) apresentam tempo na função acima de 20 anos, os demais (25%) possuem
tempo menor ou igual a 5 anos.
      Dentre os 8, 3 professores – II,III e V – (34,5%) utilizam questões
contextualizadas e adaptadas de vestibulares, 4 professores – I,IV,VI e VII – (50%)
utilizam o método tradicional de ensino e 1 professor – VIII – (15,5%) utiliza
atividades extraclasse (análise de compras do dia-a-dia do aluno).
      É evidente que a maioria dos professores, mesmo com pouco tempo de
carreira, procuram se adequar as necessidades do aluno visando amenizar as
dificuldades apresentadas por eles; E grande parte dos entrevistados faz uso de
exemplos do cotidiano para tornar mais fácil a aprendizagem dos educandos.
      Só que o uso do cotidiano se dá de maneira diferentes, logo, 4 professores –
I,II,III e V – (50%) utilizam exemplos do cotidiano enfatizando a valorização e
desvalorização de um objeto, 2 – IV e VII – (25%) fazem uso de exemplos do
cotidiano para a resolução de problemas, 1 – VI – (12,5%) utiliza as transações
econômicas presente no Mercado do Ver-o-Peso (contexto regional) como exemplo;
1 – VIII – (12,5%) utiliza a Bolsa de Valores como base para elaboração de
problemas.
      Apesar de utilizaram meios para exemplificar o cotidiano foi evidenciado que
somente 5 professores – II,IV,V,VI e VIII – (62,5%) construíram atividades com
exemplos rotineiros, Mercado do Ver-o-Peso, jogos, entre outros. Os demais
professores – I,III e VII – (37,5%) não fizeram uso de atividades.
      As atividades são importantes, pois fomentam a criatividade do educando o
que torna interessante, divertida e satisfatória a aprendizagem. Então é necessário
que o professor saiba dividir alguns conteúdos matemáticos em aulas, avaliações e
atividade extraclasse. Tendo em vista que nem todos os assuntos são possíveis de
se contextualizar para formar atividades.
Com todas essas considerações, com todos os dados referentes às
dificuldades de ensino e aprendizagem, ao método utilizado pela maioria dos
professores. Destacamos que o mais desejado pelos alunos é o que relacione o
conteúdo com a realidade do mesmo. Com isso podemos elaborar nossa proposta:
Uma Proposta de Ensino da Matemática Financeira Baseada em Aspectos Culturais
de um Município Paraense, que visa construir a “ponte” entre a realidade do aluno e
o conteúdo aprendido em sala de aula.


CULTURA E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA
      Mas para criar a “ponte” o professor precisa respeitar as necessidades de
cada aluno procurando adequar-se a elas fazendo uso do conhecimento matemático
que o mesmo já possui. Afinal, cada cultura traz consigo um tipo de matemática,
uma maneira de efetuar cálculos, medições, analise do espaço, todas estas
características devem ser valorizadas para construir o conhecimento do educando,
como ressalta D’Ambrosio (2005):


                           Uma cultura é identificada pelos seus sistemas de explicações,
                           filosofias, teorias, e ações e pelos comportamentos cotidianos.
                           Tudo isso se apóia em processos de comunicação, de
                           representações, de classificação, de comparação, de
                           quantificação, de contagem, de medição, de inferências. Esses
                           processos se dão de maneiras diferentes nas diversas culturas e
                           se transformam ao longo do tempo. Eles sempre revelam as
                           influências do meio e se organizam com uma lógica interna, se
                           codificam e se formalizam. Assim nasce o conhecimento. (p.
                           101)


      Então em qualquer elemento cultural encontraremos uma ferramenta que
estimula a criatividade do aluno e desperta seu interesse, tendo em vista que o uso
de exemplos do cotidiano do educando para facilitar a assimilação do conteúdo,
também    aproxima    os     assuntos     aprendidos    de    sua    realidade   o   que
consequentemente desenvolve sua cidadania. Então concordamos com D’Ambrosio
(2005, p.116) “Contextualizar a matemática é essencial para todos”.
      Logo, para a formulação de nossa proposta de ensino utilizamos alguns
aspectos culturais de um município Paraense, o de Igarapé Açu. Analisamos a
dança, culinária, economia, entre outros elementos da cultura deste município, e
voltamos nosso estudo para a economia considerando que este é o melhor aspecto
a ser trabalhado com este conteúdo. A base econômica deste logradouro possui
como alicerces a pecuária, agricultura, artesanato e serviços, trabalhamos neste
contexto a agricultura por ser uma das atividades primárias, logo a de maior valor
cultural.
         Em Igarapé Açu é comum a plantação de mandioca, arroz, milho, feijão e
pimenta do reino, dos quais os dados a respeito do custo foram obtidos junto a ALIA
e adaptados no quadro que segue abaixo:

               Custo por     Produtividade Obtenção       Qtd         Venda     Revenda
  Espécie
                hectare        (ton/hec)   (sacos, kg) (saca, kg)      (R$)       (R$)
Mandioca       R$ 2.370,00        12           60         30        12 a 17      22
Arroz          R$ 102,00          0,8          800        30        10 a 15      18
Milho          R$ 102,00         0,45          450        30         8 a 18      22
Feijão         R$ 219,00          0,8          800        30        20 a 30      34
P. do reino    R$ 120,00         0.45          450        1         1,6 a 2,5     -
Quadro1 - adaptado da ALIA.
         No plantio da mandioca já é incluso os custos com a preparação do solo, mão
de obra, ferramentas etc. Os demais produtos são plantados junto à mandioca para
tornar o solo mais produtivo e diminuir o custo da produção.
         Os valores de lucros da revenda chegam a variar em torno de 73% a 100%
sobre o preço de venda. Contudo, os preços de venda são diretamente relacionados
às leis de mercado, alta procura preço mais elevado, alta oferta preços baixos, estes
fatores de elevações de procura e preço, dependem diretamente a elementos
naturais referente ao plantio dos produtos: O tempo de colheita, a preparação do
solo. O que provoca a variação nos preços tornando em certas épocas do ano o
produto mais barato ou mais caro.
         A partir desse levantamento, constatamos que desde o plantio até a venda a
agricultura tem influência direta e/ou indireta na rotina dos habitantes daquele
município. Logo, em uma sala de aula o professor poderia aproveitar esta
característica da agricultura, que é um elemento cultural, e usá-lo em sala de aula
contextualizando-o visando facilitar a aprendizagem da matemática financeira. Com
isso, o aluno construirá a capacidade de identificar os fatores que levaram a alta ou
baixa de preços de alguns itens de seu consumo rotineiro, e saberia estabelecer
cálculos financeiros para transações econômicas feitas por ele.
         Com isso, propusemos à utilização da realidade econômica regional do aluno
visando tornar mais interessante a aprendizagem da matemática financeira e
procurando desenvolver a capacidade do aluno de reconhecer e aplicar os
conteúdos em seu cotidiano. Construindo, assim, sua capacidade critica e
adequando-o as necessidades da atual conjuntura social.


Exemplo de atividade
1º Contextualizando a realidade:
Uma das maiores características dos habitantes da cidade grande é a falta de
conhecimento quanto à cultura dos demais habitantes do nosso estado, por
exemplo, quantos sabiam que a base econômica do município de Igarapé-Açu tem
como um de seus alicerces a agricultura? Eles plantão feijão, mandioca, milho, arroz
e a tão famosa pimenta do reino.


2º Mostrando os elementos:
O quadro abaixo demonstra os preços de custo, venda e revenda para cada item
citado acima:

                Custo por   Produtividade Obtenção       Qtd         Venda     Revenda
  Espécie
                 hectare      (ton/hec)   (sacos, kg) (saca, kg)      (R$)       (R$)
Mandioca      R$ 2.370,00        12            60        30        12 a 17      22
Arroz           R$ 102,00        0,8           800       30        10 a 15      18
Milho           R$ 102,00       0,45           450       30         8 a 18      22
Feijão          R$ 219,00        0,8           800       30        20 a 30      34
P. do reino     R$ 120,00       0.45           450        1        1,6 a 2,5     -


3º Organizando a atividade:
         A sala será divida em grupos de no Maximo 5 alunos cada, dos quais cada
grupo formulará e resolverá questões, de matemática financeira, relacionadas aos
dados a cima. Depois cada um irá ao quadro escreverá uma de suas questões e
desafiará outro (não pode ser do mesmo grupo) a resolvê-la, se o desafiado
responder corretamente e explicar como a fez ganhará o ponto e escreverá uma de
suas questões no quadro e desafiará outro, e assim segue.
         Ganha quem resolver mais questões, contudo, o objetivo desta atividade não
é determinar vencedores, mas sim relacionar o cotidiano do educando e avaliar o
quanto foi absorvido do conteúdo ministrado.
CONSIDERAÇOES FINAIS
      Percebemos com esse estudo que o uso do cotidiano do educando para
exemplificar certos conteúdos matemáticos é necessário já que aproxima a
construção de seu conhecimento com a sua realidade sociocultural, logo, mostra
que a matemática está presente em tudo que fazemos, como ao pagar uma conta,
ao comprar algo, entre outras coisas. Então, cabe ao professor mesclar elementos
culturais com sua metodologia para tornar mais interessante à aprendizagem e mais
satisfatório o ensino, já que as atitudes do educador influenciam diretamente nas
atitudes do estudante. Também, com isso aprendemos aplicar atividades que faça o
aluno perceber a aplicabilidade dos assuntos aprendidos em sua rotina.




REFERÊNCIAS

Sites da Web

1. D’AMBROSIO, Ubiratan. Diário na escola. Etnomatemática. Publicado em: 2003.
Disponível em: http://etnomatematica.org/articulos/boletin.pdf Acesso em 27 de
novembro de 2010.

2. D’AMBROSIO, Ubiratan. Universidade Estadual de Campinas. Sociedade,
cultura, matemática e seu ensino. Publicado em: 2005. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/ep/v31n1/a08v31n1.pdf Acesso em 14 de dezembro de
2010.

3. POSSIEDE, Olindo Júnior. O ensino da matemática financeira: relato de uma
experiência de aprendizagem. Publicado em: 2007, Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/362-
4.pdf?PHPSESSID=2009051509001987 Acesso em 24 de novembro de 2010.

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UMA PROPOSTA DE ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA BASEADA EM ASPECTOS CULTURAIS DE UM MUNICÍPIO PARAENSE

  • 1. UMA PROPOSTA DE ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA BASEADA EM ASPECTOS CULTURAIS DE UM MUNICÍPIO PARAENSE Augusto Cezar Gonçalves Bello1 Hamilton Gomes de Araújo Júnior 1 Hanrryetth Christine Frota de Oliveira1 Harrisson Alexander Mendes Costa1 Luan Marcus dos Reis Gonçalves1 RESUMO O presente estudo tem como objetivo elaborar uma proposta de ensino sobre a matemática financeira com uso da cultura regional do aluno, como exemplo usamos a do município de Igarapé Açu. Fundamentado nos dados colhidos acerca deste município, economia e cultura, onde privilegiamos a agricultura e utilizamos de dois questionários, um aplicado a 20 (vinte) alunos do 2º e 3º ano do ensino médio, e outro aplicado a 8 (oito) professores de matemática de ensino médio, construímos a proposta voltada ao ensino da matemática financeira baseado em aspectos culturais do estudante. Os resultados esperados com o uso desta forma de lecionar é que os discentes assimilem este conteúdo mais facilmente e possam mesclar o conhecimento adquirido em sala de aula com o seu dia-a-dia. Palavras chaves: Etnomatemática, Matemática financeira, ensino, aprendizagem. ___________________________________________________________________ 1 Graduandos do curso de Licenciatura plena em Matemática da Universidade do Estado Pará. etnomat@gmail.com
  • 2. O ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA Ao iniciarmos este estudo constatamos que a matemática financeira não é tão privilegiada nas escolas como deveria, como ressalta Possiede (2007): “[...] a Matemática Financeira não está sendo contemplada de forma satisfatória no cotidiano das escolas [...]” Pois é ministrada ao aluno de forma mecânica, abstrata, sem artifícios que estimulem a sua criatividade, por isso muitos perdem o interesse pelo conteúdo ministrado em sala de aula. E para que o ensino seja significativo o professor precisa aprender a respeitar as diferenças culturais de seus alunos. Levando em consideração a matemática que este possui, adquirida por meio da cultura e utilizada de forma intuitiva, como ressalta o D’Ambrosio (2003): “O ensino de matemática não pode ser hermético2 nem elitista3. Deve levar em consideração a realidade sócio-cultural do aluno, o ambiente em que ele vive e o conhecimento que ele traz de casa”. Logo, o professor precisa procurar meios de se adequar as diferenças existentes, considerando aqueles estudantes que se identificam ao seu método tradicional de ensino, contudo, há os que necessitam de uma abordagem diferente para poder assimilar o conteúdo, pois não conseguem aprender com uso de exemplos abstratos e necessitam de uma “ponte” com a realidade. Contudo, a abordagem não é a única razão para a desvalorização da matemática financeira, existe também a falta de materiais didáticos que na sua mostragem não são fiéis a importância deste conteúdo. Nascimento (2004, apud. Possiede, 2007) mostra outros fatores a respeito desta desvalorização: (...) constatamos um descompasso entre a opinião dos professores de Matemática, que consideram a Matemática Financeira como um tema importante para a formação dos alunos e o fato de que não a selecionam como um conteúdo a ser trabalhado, com razoável destaque, nas turmas de Ensino Médio. Uma hipótese para compreender essa decisão dos professores pode estar localizada nos programas e provas dos vestibulares, que não priorizam esse tema, mas que, infelizmente acabam orientando o que se ensina nessa etapa dos vestibulares. Outro fator que concorre para a não abordagem dos tópicos de Matemática Financeira de forma mais coerente com algumas tendências da Educação Matemática – sejam as idéias veiculadas por teorias como as da Etnomatemática, da modelagem, dos projetos de trabalho, dentre outras – é a pouca ___________________________________________________________________ 2 Confuso, difícil de ser compreendido, misterioso. (Dicionário Aurélio). 3 É o sistema embasado no favorecimento de minorias. (Dicionário Aurélio).
  • 3. atenção dada ao tema pelos livros didáticos. Há ainda a questão referente à formação dos professores de Matemática que, de modo geral, não têm em sua formação inicial, nos cursos de Licenciatura, estudos sobre o tema nem sobre suas possíveis abordagem. ( p. 123) Estes fatos comprovam que o ensino deste conteúdo é defasado e necessita de uma nova abordagem, tendo em vista que com a globalização, a força do capital aumentando e as relações financeiras entre empresas e empresas, empresas e pessoas, se intensificando, é necessário que as partes envolvidas nestas transações possuam conhecimento suficiente do contexto matemático que rege esse mercado global, nacional e regional. Nesta perspectiva, a Matemática Financeira é fundamental, é o alicerce básico, é o ponto de partida. Com isso, o sistema de ensino tem o dever de elaborar discussões a respeito dos efeitos benéficos e nocivos do capitalismo conscientizando o aluno, que é o futuro profissional, das desigualdades sociais geradas pelo capitalismo. Shilling (apud, Possiede, 2007) exemplifica a ocorrência dessas desigualdades sociais promovidas pelo capitalismo financeiro: Trata-se de transferência de renda, do sul ao norte, transferência de riqueza, do cidadão comum ao especulador. Pois o sistema atual, alavancado pelo predomínio do consumo sobre a produção, é uma forma de transferência de renda e riqueza, produzindo incessantemente novas desigualdades. (p. 34) Nesta visão, a matemática financeira é a ferramenta ideal para podermos entender sobre o capitalismo, ela é fundamental para formar alunos críticos, que tenham questionamentos diante de uma propaganda, como: “Qual a razão de comprar isto? Será que comprar parcelado realmente é melhor que a vista? Qual será o melhor negócio, comprar com juros?” Entre outras questões. Logo, entendemos que este conteúdo não possui apenas uma perspectiva de construção do conhecimento, mas também um caráter de formação da cidadania do aluno, tornando-o crítico e reflexivo sobre suas atitudes. Tais características da matemática financeira são ressaltadas por Miguel e Miorim (2004, apud, Possiede, 2007) ao declararem que é dever da Educação Matemática, estimular o aluno a construir “(...), por intermédio do conhecimento matemático, valores e atitudes de natureza diversa, visando à formação integral do ser humano e, particularmente, do cidadão, isto é, do homem público.” (p. 71)
  • 4. Portanto a construção do conhecimento não forma apenas o estudante, mas também molda seu caráter social preparando-o para os obstáculos que a vida lhe impõe. Contudo, o ensino deste assunto não é tão valorizado como necessita a atual conjuntura social, as escolas abordam este conteúdo utilizando exemplos abstratos e superficiais que limitam a criatividade e acarreta na falta de interesse e/ou ao não relacionamento do mesmo com o cotidiano. Logo é dado ao educador a tarefa de fazer o aluno aprender a relacionar seu conhecimento com sua vida, respondendo a tão famosa pergunta: “Porque e para que eu aprendo isso?”. O conteúdo discutido por este estudo é uma ferramenta que cedo ou tarde será utilizada para ajudar-lo a resolver situações de seu cotidiano, como nos cálculos de compras, de dividas, de parcelamentos, entre outros. Então, concordamos com Possiede (2007) a respeito de que “(...) é importante que o professor ressalte a questão do tempo, ou seja, faça com que o aluno compreenda que os saberes escolares devem, em dado momento da sua vida, interferir no seu cotidiano (...)” (p. 5) Estes fatos nos levaram a elaborar uma proposta de ensino da matemática financeira baseada nos elementos sócio-culturais e escolhemos o que se enquadra melhor ao conteúdo exposto, a economia. Usamos alguns itens da base econômica da região de Igarapé-Açu4 para formular um exemplo de atividade que relacione o ambiente do estudante com este conteúdo. METODOLOGIA Os dados sobre a agricultura deste município foram obtidos junto a Associação dos Lavradores de Igarapé-Açu (ALIA). Os mesmos foram adaptados a um quadro que relaciona o Custo, a Venda, a Revenda e a Produtividade de cinco produtos: Mandioca, Arroz, Milho, Feijão e Pimenta do Reino (veja Quadro1). Para a coleta de dados a respeito do ensino e da aprendizagem, foram aplicados questionários aos alunos e professores. Nos questionários dirigidos aos estudantes na faixa etária de 16 a 17 anos de ambos os sexos, pertencentes ao ensino médio (2º e 3º ano), foi entrevistado um grupo composto de 20, dos quais 5 (25%) não tiveram nenhum tipo de contato com a matemática financeira e 15 (75%) tiveram contato, sendo que neste último, ___________________________________________________________________ 4 Município do estado do Pará situado na região Bragantina, possui uma população de 33.778 habitantes. (Fonte: IBGE).
  • 5. 10 (66,67%) cursam o 2º ano e ainda mantém contato com o conteúdo e os outros 5 (33,37%) estão no 3º ano e não tem mais contato. O fato de 4 estudantes do 2º ano não terem visto este conteúdo e de 5 do 3º ano não manterem mais ligação com o mesmo, comprova a falta de interesse por parte dos alunos ou a não valorização deste assunto por parte da escola. Entre os 15 alunos que tiveram contato com a matemática financeira, 10 (66,67%) citaram que o professor fez uso de resolução de problemas, 2 (13,33%) comentaram que o professor fez uso de resolução de problemas e atividades extraclasse (pesquisas, jogos, analises de situações) e 3 (20%) disseram que o professor fez uso de atividades extraclasse. As formas de abordagem do conteúdo influenciam diretamente nas atitudes dos educandos, a aplicação de somente resolução de problemas com uso de exemplos abstratos cria no mesmo o descaso com o conteúdo ministrado ou constrói um conhecimento com bases fracas que futuramente se depararão com situações em que o aluno conhece o conteúdo, mas não sabe aplicá-lo. O uso de atividades extraclasse, com relação ao assunto ministrado, desenvolve no educando o caráter de pesquisador e contestador e/ou criador de situações, formando não só seu conhecimento voltado ao engrandecimento de sua cidadania. Os alunos relataram dificuldades em vários aspectos, 2 – A e D – (13,34%) citaram “que é difícil juros compostos, pois há a presença de número decimal e um expoente literal.”; 5 – B,C,F,H e J – (33,34%) disseram sentir “dificuldade nas questões contextualizadas, principalmente quando envolvem juros.”; 4 – E,G,N e O – (26,66%) falaram que “Não gosto muito de fazer contas com número decimal.”. Os demais – I,K,L e M – (26,66%) comentaram não ter dificuldades no conteúdo. As dificuldades apresentadas são evidências de uma descontinuidade do conteúdo o que gera esse desnível na aprendizagem, uns assimilam melhor que outros. E o fato de alguns não “gostarem” de efetuar operações envolvendo números decimais constata a falta de habilidade para aplicar, matematicamente, um assunto que eles utilizam diariamente, como ao contar os centavos para uma passagem de ônibus ou os centavos de um troco. Os 15 alunos foram questionados se o uso de exemplos do cotidiano, a fim de facilitar o entendimento da matemática financeira, seria satisfatório. 12 – A,B,C,D,E,G,H,I,K,L,N e O – (80%) responderam que “sim” e alguns acrescentaram dizendo que isso “tornaria a aula menos chata e mais interessante.” Os demais
  • 6. alunos – F,J e M – (20%) disseram que “não” e acrescentaram que “não tem mais necessidade, eu não vou usar mesmo”. Como podemos observar é de vontade da maioria que a matemática financeira seja adequada a realidade do educando, já que como os mesmos ressaltaram tornaria a aula mais interessante. É triste a resposta dos demais alunos, já que eles possuem a idéia de que não usaram este conteúdo em sua vida. Nos questionários dirigidos aos professores, de ambos os sexos, do ensino médio (2º e 3º ano), foram entrevistados 8 profissionais da educação, dos quais 6 (75%) apresentam tempo na função acima de 20 anos, os demais (25%) possuem tempo menor ou igual a 5 anos. Dentre os 8, 3 professores – II,III e V – (34,5%) utilizam questões contextualizadas e adaptadas de vestibulares, 4 professores – I,IV,VI e VII – (50%) utilizam o método tradicional de ensino e 1 professor – VIII – (15,5%) utiliza atividades extraclasse (análise de compras do dia-a-dia do aluno). É evidente que a maioria dos professores, mesmo com pouco tempo de carreira, procuram se adequar as necessidades do aluno visando amenizar as dificuldades apresentadas por eles; E grande parte dos entrevistados faz uso de exemplos do cotidiano para tornar mais fácil a aprendizagem dos educandos. Só que o uso do cotidiano se dá de maneira diferentes, logo, 4 professores – I,II,III e V – (50%) utilizam exemplos do cotidiano enfatizando a valorização e desvalorização de um objeto, 2 – IV e VII – (25%) fazem uso de exemplos do cotidiano para a resolução de problemas, 1 – VI – (12,5%) utiliza as transações econômicas presente no Mercado do Ver-o-Peso (contexto regional) como exemplo; 1 – VIII – (12,5%) utiliza a Bolsa de Valores como base para elaboração de problemas. Apesar de utilizaram meios para exemplificar o cotidiano foi evidenciado que somente 5 professores – II,IV,V,VI e VIII – (62,5%) construíram atividades com exemplos rotineiros, Mercado do Ver-o-Peso, jogos, entre outros. Os demais professores – I,III e VII – (37,5%) não fizeram uso de atividades. As atividades são importantes, pois fomentam a criatividade do educando o que torna interessante, divertida e satisfatória a aprendizagem. Então é necessário que o professor saiba dividir alguns conteúdos matemáticos em aulas, avaliações e atividade extraclasse. Tendo em vista que nem todos os assuntos são possíveis de se contextualizar para formar atividades.
  • 7. Com todas essas considerações, com todos os dados referentes às dificuldades de ensino e aprendizagem, ao método utilizado pela maioria dos professores. Destacamos que o mais desejado pelos alunos é o que relacione o conteúdo com a realidade do mesmo. Com isso podemos elaborar nossa proposta: Uma Proposta de Ensino da Matemática Financeira Baseada em Aspectos Culturais de um Município Paraense, que visa construir a “ponte” entre a realidade do aluno e o conteúdo aprendido em sala de aula. CULTURA E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA Mas para criar a “ponte” o professor precisa respeitar as necessidades de cada aluno procurando adequar-se a elas fazendo uso do conhecimento matemático que o mesmo já possui. Afinal, cada cultura traz consigo um tipo de matemática, uma maneira de efetuar cálculos, medições, analise do espaço, todas estas características devem ser valorizadas para construir o conhecimento do educando, como ressalta D’Ambrosio (2005): Uma cultura é identificada pelos seus sistemas de explicações, filosofias, teorias, e ações e pelos comportamentos cotidianos. Tudo isso se apóia em processos de comunicação, de representações, de classificação, de comparação, de quantificação, de contagem, de medição, de inferências. Esses processos se dão de maneiras diferentes nas diversas culturas e se transformam ao longo do tempo. Eles sempre revelam as influências do meio e se organizam com uma lógica interna, se codificam e se formalizam. Assim nasce o conhecimento. (p. 101) Então em qualquer elemento cultural encontraremos uma ferramenta que estimula a criatividade do aluno e desperta seu interesse, tendo em vista que o uso de exemplos do cotidiano do educando para facilitar a assimilação do conteúdo, também aproxima os assuntos aprendidos de sua realidade o que consequentemente desenvolve sua cidadania. Então concordamos com D’Ambrosio (2005, p.116) “Contextualizar a matemática é essencial para todos”. Logo, para a formulação de nossa proposta de ensino utilizamos alguns aspectos culturais de um município Paraense, o de Igarapé Açu. Analisamos a dança, culinária, economia, entre outros elementos da cultura deste município, e voltamos nosso estudo para a economia considerando que este é o melhor aspecto a ser trabalhado com este conteúdo. A base econômica deste logradouro possui
  • 8. como alicerces a pecuária, agricultura, artesanato e serviços, trabalhamos neste contexto a agricultura por ser uma das atividades primárias, logo a de maior valor cultural. Em Igarapé Açu é comum a plantação de mandioca, arroz, milho, feijão e pimenta do reino, dos quais os dados a respeito do custo foram obtidos junto a ALIA e adaptados no quadro que segue abaixo: Custo por Produtividade Obtenção Qtd Venda Revenda Espécie hectare (ton/hec) (sacos, kg) (saca, kg) (R$) (R$) Mandioca R$ 2.370,00 12 60 30 12 a 17 22 Arroz R$ 102,00 0,8 800 30 10 a 15 18 Milho R$ 102,00 0,45 450 30 8 a 18 22 Feijão R$ 219,00 0,8 800 30 20 a 30 34 P. do reino R$ 120,00 0.45 450 1 1,6 a 2,5 - Quadro1 - adaptado da ALIA. No plantio da mandioca já é incluso os custos com a preparação do solo, mão de obra, ferramentas etc. Os demais produtos são plantados junto à mandioca para tornar o solo mais produtivo e diminuir o custo da produção. Os valores de lucros da revenda chegam a variar em torno de 73% a 100% sobre o preço de venda. Contudo, os preços de venda são diretamente relacionados às leis de mercado, alta procura preço mais elevado, alta oferta preços baixos, estes fatores de elevações de procura e preço, dependem diretamente a elementos naturais referente ao plantio dos produtos: O tempo de colheita, a preparação do solo. O que provoca a variação nos preços tornando em certas épocas do ano o produto mais barato ou mais caro. A partir desse levantamento, constatamos que desde o plantio até a venda a agricultura tem influência direta e/ou indireta na rotina dos habitantes daquele município. Logo, em uma sala de aula o professor poderia aproveitar esta característica da agricultura, que é um elemento cultural, e usá-lo em sala de aula contextualizando-o visando facilitar a aprendizagem da matemática financeira. Com isso, o aluno construirá a capacidade de identificar os fatores que levaram a alta ou baixa de preços de alguns itens de seu consumo rotineiro, e saberia estabelecer cálculos financeiros para transações econômicas feitas por ele. Com isso, propusemos à utilização da realidade econômica regional do aluno visando tornar mais interessante a aprendizagem da matemática financeira e
  • 9. procurando desenvolver a capacidade do aluno de reconhecer e aplicar os conteúdos em seu cotidiano. Construindo, assim, sua capacidade critica e adequando-o as necessidades da atual conjuntura social. Exemplo de atividade 1º Contextualizando a realidade: Uma das maiores características dos habitantes da cidade grande é a falta de conhecimento quanto à cultura dos demais habitantes do nosso estado, por exemplo, quantos sabiam que a base econômica do município de Igarapé-Açu tem como um de seus alicerces a agricultura? Eles plantão feijão, mandioca, milho, arroz e a tão famosa pimenta do reino. 2º Mostrando os elementos: O quadro abaixo demonstra os preços de custo, venda e revenda para cada item citado acima: Custo por Produtividade Obtenção Qtd Venda Revenda Espécie hectare (ton/hec) (sacos, kg) (saca, kg) (R$) (R$) Mandioca R$ 2.370,00 12 60 30 12 a 17 22 Arroz R$ 102,00 0,8 800 30 10 a 15 18 Milho R$ 102,00 0,45 450 30 8 a 18 22 Feijão R$ 219,00 0,8 800 30 20 a 30 34 P. do reino R$ 120,00 0.45 450 1 1,6 a 2,5 - 3º Organizando a atividade: A sala será divida em grupos de no Maximo 5 alunos cada, dos quais cada grupo formulará e resolverá questões, de matemática financeira, relacionadas aos dados a cima. Depois cada um irá ao quadro escreverá uma de suas questões e desafiará outro (não pode ser do mesmo grupo) a resolvê-la, se o desafiado responder corretamente e explicar como a fez ganhará o ponto e escreverá uma de suas questões no quadro e desafiará outro, e assim segue. Ganha quem resolver mais questões, contudo, o objetivo desta atividade não é determinar vencedores, mas sim relacionar o cotidiano do educando e avaliar o quanto foi absorvido do conteúdo ministrado.
  • 10. CONSIDERAÇOES FINAIS Percebemos com esse estudo que o uso do cotidiano do educando para exemplificar certos conteúdos matemáticos é necessário já que aproxima a construção de seu conhecimento com a sua realidade sociocultural, logo, mostra que a matemática está presente em tudo que fazemos, como ao pagar uma conta, ao comprar algo, entre outras coisas. Então, cabe ao professor mesclar elementos culturais com sua metodologia para tornar mais interessante à aprendizagem e mais satisfatório o ensino, já que as atitudes do educador influenciam diretamente nas atitudes do estudante. Também, com isso aprendemos aplicar atividades que faça o aluno perceber a aplicabilidade dos assuntos aprendidos em sua rotina. REFERÊNCIAS Sites da Web 1. D’AMBROSIO, Ubiratan. Diário na escola. Etnomatemática. Publicado em: 2003. Disponível em: http://etnomatematica.org/articulos/boletin.pdf Acesso em 27 de novembro de 2010. 2. D’AMBROSIO, Ubiratan. Universidade Estadual de Campinas. Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Publicado em: 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ep/v31n1/a08v31n1.pdf Acesso em 14 de dezembro de 2010. 3. POSSIEDE, Olindo Júnior. O ensino da matemática financeira: relato de uma experiência de aprendizagem. Publicado em: 2007, Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/362- 4.pdf?PHPSESSID=2009051509001987 Acesso em 24 de novembro de 2010.